Artigo: corregedor do CREMEB fala sobre as expectativas para a assistência à saúde no jornal Correio
11 de janeiro de 2019
Iniciamos um novo ano com os desejos e a esperança de sempre. No entanto, há uma expectativa no ar de novos tempos para a assistência à saúde. Como portal de entrada está à frente da pasta o Dr. Luiz Henrique Mandetta, médico ortopedista atuante, que conhece a fundo os problemas enfrentados pelos dois atores indispensáveis no atendimento: o paciente e os profissionais de saúde. Ele está formando sua equipe sem interferência direta da política.
Neste contexto, o médico deve assumir o papel de destaque que sempre lhe foi reservado e que nos governos do PSDB e PT/PMDB foi gradativamente escamoteado. Não é sem razão que se percebe claramente a sua substituição por teóricos que muito entendem de saúde pública até que se lhes apresente um paciente.
Permaneceram no poder desde o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso quando assumiu a pasta o economista José Serra, seguido por outro economista, três médicos políticos, um político de profissão, um bioquímico e sanitarista, dois médicos sanitaristas, um engenheiro civil e um advogado, todos com inserção político-partidária. Óbvio que não poderia dar certo.
E a voz do médico foi aos poucos sendo abafada. Programas foram criados com o afastamento do médico do seu papel de protagonista. Fizeram a “desmedicinização” do atendimento à saúde.
Lembro-me de um evento sobre assistência ao parto proposta pelo governo do Estado quando a parturiente seria atendida apenas por enfermeiros e não em equipe de saúde como está estabelecido na Lei 7.498/1986.
Depois de longo debate procurei saber na plateia quantas das defensoras da proposta tiveram seus filhos apenas com enfermeiros. Pasmem, leitores: nenhuma se submeteu ao atendimento exclusivamente por seus colegas de profissão.
Cautelarmente esclareço que não estou a desqualificar a profissão dos enfermeiros, por quem tenho estima, consideração, apreço e respeito nestes quase 40 anos de exercício profissional. A questão é contextualizar o que foi feito com a medicina nestes 20 anos de visão equivocada quanto a assistência de qualidade para todos.
Isto se pulverizou por várias áreas de atendimento, inclusive com o Programa Mais Médicos (PMM) que mantinha perfeita analogia com o trabalho escravo, ludibriava a população mais necessitada e desviava recursos para a ditadura de Cuba. O que assistimos com perplexidade foi o aviltamento da atividade médica e a introdução do atendimento à saúde de segunda classe.
Com o governo que ora se inicia já se percebe algumas mudanças, a começar pelo novo Programa Mais Saúde. Um outro fato digno de nota foi a atitude da pediatra Mayra Pinheiro, Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde ao acolher os desertores cubanos que pretendem se submeter ao Revalida. Esta sim uma insofismável demonstração de solidariedade humana e compromisso social.
José Abelardo Meneses é conselheiro e corregedor do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb)
Fonte: Jornal Correio (11.01.19)