Com três meses de salários atrasados, médicos da UPA Queimadinha denunciam más condições e sinalizam restrição de atendimento
8 de novembro de 2022
Sem recebimento dos salários referentes aos últimos três meses, os médicos da Unidade de Pronto Atendimento Elisabete Dias Marques (UPA Queimadinha), em Feira de Santana, enfrentam ainda a superlotação e a falta de medicamentos para desempenhar as suas funções de atendimento a população feirense. A denúncia, realizada pelo próprio corpo clínico ao Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), Ministério Público, Prefeitura de Feira de Santana e ao InSaúde (empresa terceirizada pelo município para gerir as contratações), motivou uma fiscalização do Conselho que constatou essas e outras debilidades na unidade, comprometendo assim a qualidade do serviço prestado aos cidadãos e desrespeitando o compromisso laboral dos profissionais que atuam no local.
De acordo com o exposto pelos médicos e averiguado pela fiscalização do Cremeb, o último salário recebido pelo corpo clínico refere-se ao mês de julho. Como reportado pelos profissionais, a empresa InSaúde alega que a prefeitura não realizou repasse suficiente para quitação, ainda que o prazo acordado para o pagamento tenha sido todo dia 20. “O que não conseguimos entender é que se o pagamento é sempre o mesmo, já que há anos não temos ajuste do valor do plantão, porque o repasse é feito com valores insuficientes?”, questionam os médicos em Carta Aberta enviada às entidades supracitadas.
Além das questões salariais, a superlotação da unidade é outro problema que influencia na rotina da prestação de serviços dos médicos, gerando sobrecarga de trabalho aos profissionais. Quando visitada pela fiscalização do Cremeb, a UPA Queimadinha tinha três pacientes internados em cadeiras na sala de reidratação. Se comparada a realidade do local com os parâmetros da Resolução CFM Nº2.079/14 – que versa sobre os funcionamentos dessas unidades -, constata-se que é necessária a presença de mais seis médicos nos plantões diurno e noturno. Os relatos colhidos durante a vistoria apontam ainda que o atendimento em locais improvisados é uma situação corriqueira, acontecendo, por vezes, em poltronas, sala de medicação, sutura e leito de parada.
“Estamos enfrentando plantões cada dia mais superlotados com pacientes graves internados, o que expõe nosso trabalho técnico, dificulta o atendimento, expõe os pacientes a condições inapropriadas e levam ao esgotamento do corpo clínico, equipe de enfermagem e técnicos”, registra o documento que relata as reivindicações. A carta informa ainda que a intenção não é de prejudicar a população, mas que cogitam a restrição de atendimento médico, caso não haja nenhuma solução por parte da prefeitura.
Pelo menos mais duas inconformidades foram registradas pelo médico fiscal que visitou a unidade pela fiscalização do Cremeb. A primeira é a falta de medicamentos, chegando a mais de 30 os compostos faltantes na farmácia da UPA (em especial antibióticos), impedindo os médicos da unidade de terem opções terapêuticas ou instituírem terapêuticas adequadas à complexidade dos pacientes internados. Outra inconformidade é ausência de uma Comissão de Ética Médica, representação obrigatória onde haja atuação de mais de 30 médicos, sendo que o local possui cerca de 60 médicos.
A Assessoria de Comunicação do Cremeb buscou contato com a Secretaria de Saúde do Município de Feira de Santana, mas não obteve sucesso a partir dos telefones institucionais dispostos no site oficial da prefeitura.