Fiscalização

Cremeb constata que médicos da Policlínica do Parque Ipê, em Feira, estão sobrecarregados e sem receber salário há 3 meses


Sem receber os salários de abril, maio e junho, os médicos da Policlínica do Parque Ipê, em Feira de Santana, decidiram restringir, desde às 0h de ontem (10.07), o atendimento da população apenas para os casos de urgência e emergência. Após tomar ciência da situação, o Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) enviou um médico fiscal à unidade, que constatou que, ontem, até às 11h50, mais de 100 pacientes deixaram de ser atendidos. A Policlínica disponibiliza atendimento pré-hospitalar 24 horas e ambulatorial, sendo de responsabilidade da gestão municipal com administração do Instituto de Gestão Integrada (IGI) desde agosto de 2020.

 

Recepção da emergência cheia na manhã de ontem (10.07)

 

Do total de pessoas que não receberam atendimento no ambulatório ontem, 40 tinham consulta marcada com o médico cardiologista e 33 realizariam um ecocardiograma. No pronto-atendimento, segundo uma médica plantonista ouvida pelo médico fiscal, somente entre às 7h e 11h30 cerca de 30 pacientes não foram atendidos por não se tratar de casos de urgência ou emergência: “Só estamos atendendo aqueles com classificação amarela pra cima”. Ela relatou que a irregularidade nos pagamentos ocorre desde a sua chegada na unidade, em outubro de 2022: “Os colegas contam que antes disso os salários eram pagos normalmente. Quando questionamos ao IGI, a justificativa é sempre a mesma: ‘os repasses da prefeitura vão ocorrer essa semana’”.

Após aguardar cerca de três meses para agendar um ecocardiograma, um paciente, que, assim como a médica, teve a sua identidade preservada, ficou desolado ao saber que não conseguiria realizar o exame ontem. “Não sei o que vou fazer, pois o médico está aguardando esse exame para mudar minha medicação, que está em falta na cidade. Não sei quando vou achar vaga novamente”, desabafou ele, declarando solidariedade aos médicos da Policlínica, que estão há três meses sem receber pelos serviços prestados. Atualmente, a unidade conta com 54 médicos atuando como pessoa jurídica, sendo 39 na emergência e 15 no ambulatório.

 

Recepção do ambulatório vazia, pois as consultas e exames de ontem (10.07) foram remarcados

Além de atraso salarial, evidenciou-se uma sobrecarga no trabalho dos médicos que atuam na Policlínica. No pronto-atendimento, que têm uma média de 200 atendimentos por dia, são apenas dois médicos por plantão de 12 horas. “Na emergência, somente o ambulatório já seria suficiente para consumir toda a carga horária destes profissionais. O desejável é que tivesse pelo menos mais dois médicos por plantão”, afirmou o médico fiscal. A lotação da unidade também chamou atenção. No momento da visita, todos os 10 leitos disponíveis do pronto-atendimento estavam ocupados e ainda tinha um paciente em observação em uma maca no corredor.

 

Mofo na parede do consultório médico da emergência

 

Parede do refeitório onde os profissionais realizam as refeições

A Policlínica também não possui inscrição no Cremeb, que é obrigatório, e nem Comissão de Ética Médica, também imprescindível já que conta com mais de 30 médicos. As instalações físicas da emergência necessitam de uma reforma. Salas apertadas, algumas delas sem a presença de ventilação e luz naturais; observação pediátrica sem banheiro; expurgo de materiais instalado em uma área administrativa e muito mofo foram algumas das evidências. “A verba que chega a gente prioriza para manter a unidade funcionando. Com isso, não temos como investir muito em infraestrutura”, alegou o diretor administrativo, André Costa, que confirmou o atraso salarial, sem precisar qual o valor e nem o tempo que o IGI está sem receber da prefeitura de Feira de Santana.